Ridley é um homem comum vivendo um momento excepcional: a pandemia de
covid-19.
Acostumado com a agitação de Nova York, o ex-veterano de Wall Street agora se
vê aprisionado em seu apartamento por causa da quarentena e submerso em
solidão e incertezas.
Mas o que a princípio se resume a tédio e a isolamento logo se transforma em
uma sequência vertiginosa de descobertas e obsessões: da janela de seu
apartamento, Ridley começa a avistar uma misteriosa luz piscante e, atraído
por ela, se lança em uma busca desenfreada para descobrir quem está tentando
falar com ele, o que o leva a confrontar sua própria loucura ou o cumprimento
de um destino mítico.
O reservatório mergulha nas profundezas da imprevisível alma humana e retrata,
com maestria, uma época em que encontrar alguém pode ser fatal e teorias da
conspiração se propagam tão rápido quanto um vírus.
~
Preciso começar dando o contexto do autor: David desde sempre se aventura por
esse caminho, é formado em literatura pela universidade de Yale e
definitivamente não se trata de um estreante.
Ele tentou aqui criar algo abstrato, estranho, querendo sair do romance óbvio
cheio de clichês que encabeçam listas do NY Times atualmente mas digamos que
tenha falhado...
O teor do livro lembra um pouco o que Neil Gaiman faz em suas obras,
misturando realidade com fantasia de uma forma em que não conseguimos
distinguir e entramos na viagem por assim dizer, funciona muito
organicamente; aqui David falhou pois a transição real/fantástico é quase
inexistente de tão abrupta, não tem um tom poético, além de forçar a barra em
muitos momentos com jogos de palavras, frases sem sentido e umas estruturas
típicas de estudantes entusiastas mas que no fim não agregam em nada na
história, apenas deixando aquela impressão de "dever bem feito", tecnicamente
é lindo porém para o leitor não funciona.
Não sei se gostei dele ter dado uma resolução no final pois estou acostumado a duvidar do personagem em livros assim, que também costumam ter final aberto, mas aqui voltamos a realidade em suas últimas páginas.
Nem tudo são flores mal cheirosas por aqui. Apesar de "não ter uma história"
(fato que mais me causou estranhamento) por começar com muitos pensamentos
soltos no maior estilo Querido Diário Pandêmico, na metade do último capítulo
as coisas começam a engrenar de um jeito que convencem, fazendo valer a
leitura que até então estava monótona, beirando um monólogo
pseudo-filosófico-experimental.
Depois de assistir uns vídeos onde o autor fala sobre o livro dá para entender
os motivos dele ter escolhido esse caminho, aqui entram inspirações como
Borges, Garcia Marquez, e Becket só para citar alguns, ficando nítida a
"tentativa" que tanto falo durante essa resenha.
Apesar de tudo se trata de uma história bonita envolvendo redenção com a
família (filha e ex esposa, netos, etc) sobre seu lugar no mundo, o perigo das
fake news, um throwback da pandemia e até uma jornada de auto
conhecimento.
Poderia ter sido mais profundo, melhor trabalhado mas para uma novela com +-
100 páginas divididos em 6 capítulos tá bem na média, sendo uma leitura ideal
para filas de banco ou quando estamos na famosa e temida ressaca literária.
O autor realmente fez o projeto Res:365 e postou no instagram, o que me faz pensar no tom autobiográfico do livro, ou como dizem lá fora "own voice"
Quotes:
Sabia que era um daqueles membros hipócritas da tribo que acreditava religiosamente na ciência, mas que não sabia nada de verdade dela.
Uma lápide é um troféu de participação da vida.
Ele estava ali. Só partiria de verdade quando ela parasse de sonhar com ele.
Um pesadelo ainda é um sonho, não é?
Compre: