Com excesso de erros no início do romance, os relatos de Charlie revelam sua condição limitada, consequência de uma grave deficiência intelectual, que ao menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às gozações dos colegas de trabalho e intocado por tragédias familiares.
Porém, ao participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele
não apenas se torna mais inteligente que os próprios médicos que o operaram,
como também vira testemunha de uma nova realidade: ácida, crua e problemática.
Se o conhecimento é uma benção, Daniel Keyes constrói um personagem
complexo e intrigante, que questiona essa sorte e reflete sobre suas relações
sociais e a própria existência. E tudo isso ao lado de Algernon, seu rato de
estimação e a primeira cobaia bem-sucedida no processo cirúrgico.
Perturbador e profundo, Flores para Algernon é tão contemporâneo quanto na época de sua primeira publicação, debatendo visões de mundo, relações interpessoais e, claro, a percepção sobre nós mesmos. Assim, se você está preparado para explorar as realidades de Charlie Gordon, também é a chance para perguntar: afinal, o mundo que sempre percebemos a nossa volta realmente existe?
~
Ainda me encontro sem ar pós leitura desse título, e o motivo é bem simples: me deixou pensando por dias sobre a nossa (minha) existência, o que poderia acontecer se nos dessem poderes? Sobre se corromper, ou apenas se mostrar quem é perante uma situação de dominância, e coisas desse tipo indo para o lado mais selvagem da humanidade.
Embora seja de uma leitura muito simples os temas tratados vão em outra
direção, com uma carga emocional alta, muito drama e dilemas que permeiam a
sociedade, Daniel Keyes dá vida a um personagem antes sem consciência de nada,
aos poucos evoluindo depois da cirurgia para o maior gênio que já tivemos no
planeta.
Isso claro traz muitas consequências práticas e quem mais sofre
diretamente com elas é Charlie, pois como o Miranha já falou uma vez "com
grandes poderes vem grandes responsabilidades" embora Charlie seja inteligente
além do normal, o lado emocional dele não se desenvolveu e isso causa um
conflito interno onde o personagem não consegue se aproximar de mulheres com
intenções amorosas, achei uma sacada genial para balancear e não criar um cara
indestrutível a lá Marvel.
Ficamos sabendo aos poucos dos acontecimentos da infância de Charlie, juntando as peças para entender o motivo de tanto trauma para com as mulheres através de memórias que aparecem nos sonhos e logo em seguida nos relatórios enviados ao laboratório. Por vezes essas partes destoam um pouco da narrativa quebrando o fluxo, diria até que fica "chato" mas é altamente necessário para entender a cabeça dele, é o típico quebra-cabeça cult bastante presente na ficção científica e que adoro, mas não esperava esse artifício aparecer por aqui (óbvio que faz sentido).
Infelizmente se continuar falando vou entregar toda a história. É um livro bem existencialista e a ficção científica fica quase em segundo plano pois o centro mesmo é Charlie até pela razão do livro ser escrito no formato de relatórios. O final é emocionante, pesado, e diria até que injusto porém por mais desumano que seja faz sentido e uma coisa que esse livro tem se chama coerência, não por acaso se tornou um clássico. Aprendam autores novos a criarem uma trama sem furos, obrigado.
Me arrependo de não ter lido antes, mas antes tarde do que nunca né?!
Quotes:
Que fiquem no escuro por um tempo; eu fiquei no escuro por mais de trinta anos.
Ele faz com que eu sinta que, antes do experimento, eu não era realmente um ser humano.
Quanto mais inteligente você se tornar, mais problemas você terá.
É necessário esse tipo de ego para fazer um homem tentar algo assim.
O gelo quebrara entre nós, e o vão se ampliava enquanto as correntes da minha mente me levavam rapidamente para o mar aberto.
Extra:
Filme baseado no livro - Os Dois Mundos de Charly
![]() |
HOMЯ |