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Hora de Ler: Qualityland - Marc-Uwe Kling

Olá galerinha, tudo bem com vocês? O livro de hoje foi uma baita surpresa pois eu nunca o tinha visto antes, me deparei com ele numa feirinha e meu Deus! Foi o melhor encontro literário inesperado de todos os tempos!

Bem-vindo a Qualityland, a nação mais poderosa e desenvolvida do planeta. Tudo em Qualityland é pensado de maneira a otimizar a sua vida.
Um sistema identifica seu parceiro ideal, vermes-androides em sua orelha dizem o melhor caminho a tomar no seu dia a dia, drones já sabem, só pela sua cara, que você precisa de uma cervejinha bem gelada no fim de um dia de trabalho exaustivo. 

Humanos, robôs e algoritmos aparentemente convivem muito bem, e tudo gira em torno do mundo corporativo, hierárquico e do dinheiro.
Ao nascer, cada pessoa recebe de seus genitores um sobrenome específico, que muitas vezes acaba sendo usado como indicador de seu papel nessa linda e perfeita sociedade. Todo o resto que é preciso saber, claro, está na ficha pessoal de cada habitante de Qualityland. 

No entanto, se o sistema é tão perfeito como dizem, por que existem drones com medo de voar, droides sexuais com disfunção erétil ou robôs de combate com transtorno de estresse pós-traumático? Por que em Qualityland as máquinas estão se tornando cada vez mais humanas, mas as pessoas se tornam cada vez mais máquinas?

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Que surto! Desde O Guia do Mochileiro, e talvez Deuses Americanos que eu não lia algo tão fora da caixinha e original. As comparações com Adams e Orwell são inevitáveis, o que muda é que o ambiente corporativo (Amazon) dominou o mundo e agora todo mundo tem uma Alexa dentro da cabeça. Insano!
Ah, a babá eletrônica Nana, tem o nome em referência a Peter Pan 😍

Apesar do tom sarcástico bem humorado (passei mal de rir) o livro assusta com tamanha similaridade não só no Brasil, mas tudo que envolve a tecnologia de modo geral. Quando ele vai se aprofundando é que fica feio mesmo pois as metáforas se encaixam muito bem no dia a dia.
Muitas críticas ao governo tornando os parlamentares estúpidos, uma coisa bem South Park, absurda mesmo servindo para retratar também o fenômeno da polarização e das fake news aqui no país, pena que isso acontece no mundo inteiro sendo fácil se identificar com as bizarrices apresentadas na narrativa.

A história é muito bem amarrada, "interativa" pois desde o início 'Calíope' faz a introdução e avisa o que iremos encontrar ali, o teor etc. Mas quem ou o que é Calíope? Bem... leiam para ter esse gostinho de "ahhhhh entendi" lá no final, nos últimos parágrafos da história.
É chocante como ele trata a desigualdade social aqui dividindo a sociedade por classificação de níveis, quem está abaixo do 10 é considerado um inútil e não consegue nada nem emprego, enquanto isso os donos de mega empresas são nível 90+ porém o algoritmo foi programado para ninguém chegar de fato ao 100 pois assim a competição para ver quem é mais poderoso acabaria, culminando um prejuízo para a sociedade de Qualityland onde as pessoas existem em função dos níveis, seria um caos.

O mais legal é que o livro não se pauta apenas em política, ele tem uma base muito forte nas redes sociais afinal de contas Qualityland é uma sociedade "smart" super conectada onde a menor alteração de humor é percebida pelos servidores. Talvez essa parte que tenha me assustado tanto levando a uma reflexão das horas em que passamos conectados, se as redes sociais são de fato "gratuitas" (off old: sei que não mas deixa quieto) e de fato saudáveis como os donos costumam vender a imagem.

Curioso é notar que no ano de lançamento original do livro lá fora na Alemanha em 2019 as inteligências artificias ainda estavam engatinhando, pouco se ouvia falar, era algo bem experimental. De fato elas sempre existiram mas eram restritas aos profissionais de T.I. e o acesso não era em larga escala como está hoje com esse boom no final de 2023, então nem preciso dizer que é um livro bem atual, apesar de já ter dito isso nos parágrafos anteriores com outras palavras.

Me apaixonei pela história, a escrita do autor é daquelas em que você só para por ter algum compromisso ou para descansar, bem difícil mesmo de largar e a história fica na sua mente por vários dias gerando uma curiosidade para saber como aquilo tudo vai se desenrolar.
Garanto que ele consegue um final decente mesmo a história tomando um rumo bem diferente do esperado pós o episódio do vibrador, mas na verdade é disso que gosto na literatura: ser surpreendido, deixar o autor levar a história para caminhos nunca imaginados deixando bem imprevisível mesmo. Só reiterando: vale a pena, mas nem tente adivinhar o que vai acontecer.


Quotes:

Nenhuma pessoa sensata se interessa por vídeos de unboxing.

Em certo sentido, o Parlamento hoje é o que o convento foi ontem: o lugar onde a classe alta pode desovar os filhos supérfluos.

Ficar no topo da lista dos mais vendidos não é uma arte. É só processamento de dados!

Peter faz o que gosta de fazer quando não sabe o que fazer.

Tudo o que cada um de nós vê e escuta é apenas um eco daquilo que nós mesmos expressamos ao mundo.

Dá dez estrelas ao drone porque sabe que tudo abaixo de dez estrelas acabaria gerando obrigatoriamente uma pesquisa de satisfação, na qual ele teria de explicar por que não ficou cem por cento satisfeito.

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