Quando a década de 1980 começa a dar as caras no Rio de Janeiro, o tempo é de
contradições.
À efervescência musical e a uma febril vontade de viver, unem-se a
instabilidade política, a aterrorizadora epidemia de aids e o aumento do
tráfico nas favelas.
E cinco personagens, de idades diferentes, aspirações diferentes, mundos
diferentes, veem a vida mudar completamente.
Inácio, apaixonado por Baby, larga a faculdade de engenharia quando conhece
César, produtor musical gay que, como Baby, busca encontrar o próprio lugar no
mundo. Selma, mãe de César, lida com o abandono do marido e o medo de perder o
filho.
Em seu prédio, trabalha Rosalvo, paraibano recém-chegado à Rocinha em busca do
assassino de sua filha trans.
~
Só essa sinopse já entrega MUITA coisa. O legal é que o livro "demora" a
começar mas é justamente isso que o torna incrível pois entramos nas vidas
desses personagens até então isolados, sem ligação nenhuma que aos poucos
cruzam seus destinos.
A vibe do livro varia bastante indo de uma Malhação puxando mais pro YA,
passando por uma novela de Maneco devido ao lugar onde eles moram, com dramas
mais "classe média" até o ápice de drama em que as lágrimas caem sem você
perceber.
Fico feliz por ninguém ter problematizado o livro, significa que souberam
interpretar diferente de leitorXs que... enfim... Temas bem pesados e tabus
avançados para a época onde a masculinidade frágil estava em alta, se fomos
observar algumas coisas tratadas na obra ainda se repetem em pleno 2024.
Da construção e personagens não tem o que se falar, é perfeito. São 5 pessoas
com capítulos extensos, 4 delas compartilham o mesmo ambiente e o único
"estranho" até então é Rosalvo com um objetivo muito nobre a ser cumprido. O
desenvolvimento é bom a ponto de nos fazer "esquecer" o início, os dilemas
pequenos e até mesmo um certo "mimimi" de personagens reclamando por besteira.
Os temas vão desde a descoberta sexual, busca de identidade, auto afirmação,
repensar escolhas... É tanta coisa que daria outro livro só com os assuntos
abordados, também é o motivo de eu não conseguir categorizar devidamente a
obra por isso encaixo como Young Adult apesar de não ser (o foco).
Para quem viveu os anos 80 e ainda mais no Rio será um verdadeiro deleite.
Muitos detalhes geográficos, tecnologias da época, músicas, bandas que estavam
nascendo, O ROCK IN RIO. Achei muito gostoso descobrir esses detalhes junto
com os personagens uma verdadeira aula-TBT bem legal e imagino que o autor
tenha vivenciado tudo aquilo para descrever com tanta precisão.
O livro é dividido em 3 partes, sendo a primeira uma introdução bem generosa,
a segunda o ápice do drama e a última um belíssimo arremate no total se
passando uma década de história com um final bem satisfatório mas que vai nos
deixar com saudade dos personagens pois o autor conseguiu cativar bastante.
Eu não gosto de falar da história entregando oo enredo então vou me conter por
aqui.
Garanto que é uma ótima surpresa no cenário nacional, de uma qualidade
incrível, por uns momentos me lembrou um Nelson Rodrigues com update (entendam
como quiserem) vale muito a pena e vou indicar demais esse livro no Twitter.
PS: Das (várias) referências, o título é uma música do Pink Floyd, banda que o protagonista é fã.
Quotes:
É mais difícil ser capturado quando se está em movimento.
O torpor é o pior estado do ser humano.
César desejou nunca chegar à idade dele implorando por afeto.
Quando a vida varre tudo o que é relevante, a única alternativa é se agarrar ao trivial.
Um toque pode desencadear uma reação em cadeia, despedaçando uma pessoa, mas pode ajudar a manter uma alma coesa, mesmo nas piores circunstâncias.
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